segunda-feira, 12 de maio de 2014

"Mãos que Cuidam"

A revista Super Interessante publicou no mês de Abril de 2014 um dossiê sobre Medicina Alternativa, incluindo a Massoterapia como uma das mais eficazes! Confira a matéria!


Mãos que Cuidam

Populares fora de hospitais e velhas conhecidas de atletas, técnicas de massagem são gradualmente incorporadas pela medicina ocidental para relaxar o corpo e a mente dos pacientes.

Os primeiros registros do uso de massagem vêm da China e têm mais de 4 mil anos. Na Grécia Antiga, Hipócrates a recomendava para aliviar dores musculares. Mas nem a influência do pai da medicina moderna foi o suficiente para evitar que essa terapia fosse banida do mundo ocidental durante séculos, a partir da Idade Média. A igreja considerava um pecado esse negócio de tocar a pele dos outros de um jeito tão prazeroso. Livre da inquisição, a prática voltou a se popularizar aos poucos nesta metade do mundo e, nas últimas décadas, finalmente está sendo reincorporada ao contexto medicinal. Nos EUA, dados da Associação Americana de Hospitais mostram que a massoterapia está presente em 71% dos hospitais que oferecem algum tipo de abordagem complementar - é o serviço mais comum entre eles. No Brasil, a integração ainda engatinha, mas aos poucos ganha seu espaço em unidades de saúde, principalmente nas particulares.

  • Origem: O texto médico mais antigo da índia, o Ayurveda (1800 a. C.), a prescreve associada a outras terapias;
  • Principais Indicações: Problemas de circulação, dores musculares e de cabeça, insônia, ansiedade e estresse;
  • Contraindicações: Grávidas e pacientes com câncer de pele ou linfático, osteoporose ou varizes devem ser analisados caso a caso.
"A idéia da massagem é reduzir a dor, desacelerar o organismo do paciente e resgatar uma sensação prazerosa dele com seu próprio corpo, que as vezes se perde durante a doença", explica Vivian Nassif, terapeuta ocupacional do Hospital Sírio Libanês. Segundo a tradição oriental, a massagem atinge esse objetivo ao estimular o fluxo de energia vital que existe em todos nós. Do ponto de vista da medicina chinesa e da ayurveda, problemas de saúde são causados por desequilíbrios e falta de harmonia nesses fluxos. Nos dois casos, acredita-se que a manipulação da pele nos locais certos contribuem para restabelecer o equilíbrio e o bem-estar. Cientistas de jaleco branco e equipamentos de última geração não conseguem medir essa energia e, por isso, não acreditam nesses preceitos. Mas reconhecem os resultados práticos - e positivos - dessas técnicas manuais.

Resultados à mão

Um estudo do Centro de Estudos de Saúde de Seattle, por exemplo, mediu a eficácia da massagem como tratamento complementar para dores crônicas na região lombar. Os cientistas acompanharam a evolução do tratamento de 400 adultos de meia idade que tinham o problema.  Os voluntários foram divididos em três grupos: um deles recebeu uma massagem suave, outro uma massagem pesada e o outro, nenhum tipo de massagem, por dez semanas seguidas. Todos eles continuaram com as medicações convencionais. O resultado publicado em 2011, mostrou que 33% das pessoas que receberam massagens relataram grande redução nas dores, ou mesmo o fim delas. Já no grupo dos que não receberam nenhuma massagem, apenas 4% se sentiram melhor.
Outras pesquisas mostram que a massagem é um coadjuvante benéfico no tratamento de ansiedade, estresse e depressão. Um estudo feito com 29 pessoas pelo Centro Médico Cedars- Sinai, nos EUA, mostrou que uma única sessão de massagem de 45 minutos era suficiente para reduzir os níveis de vasopressina e cortisol, hormônios indicadores de estresse. Um estudo que revisou resultados de 30 pesquisas notou que duas massagens de 20 minutos por dia eram suficientes para diminuir o cortisol em pelo menos 30%.
A turma do futebol reconhece e respeita o poder da massagem há muito mais tempo que a dos laboratórios. Quando o Brasil foi campeão mundial pela primeira vez, em 1958, na Suécia, a seleção já tinha um massagista consagrado justamente na técnica de massagem sueca - variedade desenvolvida a partir das técnicas orientais. Mário Américo tinha tanto prestígio entre os jogadores que geralmente era o único membro da comissão técnica que agachava ao lado de Pelé e Garrincha para as fotos oficiais. Hoje, não existe time ou atleta de alto desempenho que viva sem um massagista. E não é por acaso.
Durante a atividade esportiva, o corpo sofre alguns danos: microlesões musculares, inflamação dos músculos e tendões, edemas e produção de substâncias tóxicas, como ácido lático e uréia. Tudo isso provoca dores e tensão na musculatura.
"Um dos métodos mais eficientes para ajudar nessa recuperação é a massagem, pois ela aumenta a circulação, 'lavando' a musculatura e acelerando a eliminação desses componentes tóxicos", diz o fisiologista do esporte Paulo Zogaib, da Unifesp. Além disso, a massagem aumenta os níveis dos neurotransmissores serotonina e dopamina. Além de causar um bem-estar imediato, essas substâncias facilitam o sono profundo, momento em que ocorre o reparo dos tecidos musculares.
Mais: o contato e a fricção das mãos com a pele causa um efeito termodinâmico que aumenta a temperatura no local, dilatando os vasos sanguíneos mais superficiais. Outra rede tocada pelas mãos na nossa pele é o sistema linfático, uma vasta rede de vasos e pequenas estruturas chamadas de nódulos. Ele fabrica e distribui as células do sistema imunológico, que produzem os anticorpos que nos protegem de infecções.
Outra explicação para os efeitos da massagem está na própria pele. Repleta de terminações nervosas responsáveis pelo tato, ela capta informações de pressão, textura e temperatura e envia impulsos nervosos ao cérebro. Sabe-se que a simples estimulação desses receptores ajuda a desacelerar o coração e reduzir a pressão sanguínea, além de diminuir níveis dos hormônios de estresse citados acima. E ainda faz o contrário: um estudo de 2012 da Universidade da Califórnia (EUA)  mostrou pela primeira vez que esse estímulo aumenta a produção de ocitocina , hormônio que favorece as relações humanas ao aumentar a empatia e diminuir os sentimentos de ansiedade e rejeição.
"Dentro dos hospitais, o principal uso da massagem é preventivo e de cuidados. O toque alivia tensões, melhora a autoestima e o estado psíquico dos pacientes, que passam a enfrentar melhor as doenças", diz Marco Antônio Ferrari, coordenador do curso de massoterapia do SENAC.
Pesquisas mostram que até abraços e toques sutis produzem resultados deste tipo. O que o contato intenso e repetido da massagem faz é tornar esses benefícios ainda mais palpáveis, digamos. É isso que a medicina convencional busca ao incorporar o trabalho dos massoterapeutas ao seu dia a dia. Para os médicos, é mais um recurso. Para os pacientes, uma chance de aumentar seu bem-estar com menos remédios.




 PORTILHO, Gabriela. Mãos que cuidam. SUPER Interessante, São Paulo, edição 331, p. 49-52, Abril, 2014